sexta-feira, 20 de abril de 2012

ONIPRESENÇA (POEMA DE CARLOS VAZCONCELOS)


No princípio era a solidão
A solidão de Deus

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Onipresença

Carlos Vazconcelos


A solidão,
afiada e intermitente,
manipula a multidão,
crava-lhe o dente.

Sutil espada,
atravessa o espaço neutro,
à distância de mil jardas
irrompe o feltro.

E vai trotando
na madrugada erradia,
encontra corpos dançando
na fantasia

E outros corpos
no crepúsculo do dia
quando a bebida nos copos
já principia

E anda ao relento
nas avenidas vazias
e sobe aos apartamentos
cai nas coxias

E canta nomes
de um passado vadio
de tantos passos insones
do já tardio

Está em tudo:
rondando o quarto e o jazigo,
no bolso do sobretudo
do homem rico

E na casaca
suja e rota do mendigo
nos leitos feitos de macas
do velho abrigo

E forja insônias
nas alcovas e salões
mesmo nas bocas risonhas
há solidões

Há no mosteiro
e na cela do cativeiro
nas tábuas do picadeiro
no mundo inteiro



1º lugar no XIV Prêmio Ideal Clube de Literatura (Prêmio Juvenal Galeno) - 2011-2012

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