Enver Hodxa, ditador da Albânia stalinista em cuja Constituição havia uma cláusula que estabelecia o ateísmo como "religião" oficial do Estado. |
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Roberto Takata
A linha de defesa, pelo que entendi, passa por:
1) Liberdade de expressão;
2) Direito de resposta: "eles (os religiosos) que começaram,
professor";
3) Estão apenas dizendo a verdade: "religião *é* ridícula";
4) Estratégia retórica: tem que bater o pau na mesa pra se fazer respeitar;
5) Dizer que não deveriam ridicularizar seria o mesmo que dizer que negros
deveriam saber seu lugar, homossexuais devem ser discretos e mulheres devem se
vestir como pudicas.
1) Como o próprio Orsi reconhece nos comentários da postagem dele, a liberdade
de expressão tem limites: de um lado, a lei, e de outro, há a reprovação dos
intelectuais. E, bem, aparentemente parte dos intelectuais acha que essa
ridicularização passou mesmo o limite do bom gosto e da civilidade a ponto de
fazerem crítica pública a essas ações, inclusive intelectuais dentro da própria
comunidade ateísta e ateia. (Quanto ao limite legal estou mais incerto - creio
que ninguém ainda tenha sido processado.)
2) Em conjunto com certas interpretações de (1) isso acaba legitimando também o próprio discurso *contra* os ateus (ou contra a ateidade/ateísmo). Por quê? Porque de um lado, se *todo mundo* tem a liberdade de dizer *o que quiser*, esse "todo mundo" inclui os religiosos e esse "o que quiser" inclui descascar os ateus. De outro, é o princípio em que a reciprocidade elimina a ofensa inicial. Os dois se xingaram, estão quites. Ninguém tem que falar nada de ninguém. (É um dispositivo de exclusão de pena no Código Penal para os casos de injúrias - art. 140:
"§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria."
2) Em conjunto com certas interpretações de (1) isso acaba legitimando também o próprio discurso *contra* os ateus (ou contra a ateidade/ateísmo). Por quê? Porque de um lado, se *todo mundo* tem a liberdade de dizer *o que quiser*, esse "todo mundo" inclui os religiosos e esse "o que quiser" inclui descascar os ateus. De outro, é o princípio em que a reciprocidade elimina a ofensa inicial. Os dois se xingaram, estão quites. Ninguém tem que falar nada de ninguém. (É um dispositivo de exclusão de pena no Código Penal para os casos de injúrias - art. 140:
"§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria."
Isto é, ateus ficam sem a carta do "quero respeito", a menos que ambas
as partes se sentem para um armistício.
E a prioridade da provocação é invertida quando começa a caçoar de Ganexa - há
poucos casos de atritos entre hindus (religiões orientais de modo geral, e as
de matrizes nativas e africanas também) e ateus no Brasil.
4) De um lado há que se discutir se a hora é agora. E de outro se é verdade que
isso é necessário. Orsi também reconhece nos comentários da postagem dele a
possibilidade de escalada, o que chama de "corrida armamentista". Se
o efeito desejado é de *convencimento*, isso parece um tiro pela culatra.
5) A comparação não procede como argumentei lá na postagem de Orsi:
"A comparação com 'negro saber seu lugar', 'homossexuais não pode[m] andar de mãos dadas na rua', 'mulher não pode usar roupa sensual' não é bom [sic, boa] em relação a 'ateus devem ser respeitosos'. Em primeiro lugar, desrespeito é criticável - mesmo o responsivo. Além disso, desrespeito *não* é uma característica intrinsecamente necessária para o exercício da ateidade ou do ateísmo. Em terceiro lugar - ligando-se com o primeiro -, 'negro saber seu lugar' restringe os direitos dos negros porque todo mundo, menos os negros, podem ir e vir para qualquer lugar, 'homossexual deve ser discreto' restringe o direito dos homossexuais porque todo mundo, menos os homossexuais, podem demonstrar afeto em público; 'mulher deve se vestir puritanamente' restringe os direitos das mulheres porque todo mundo, menos as mulheres, podem se vestir do jeito que quiserem
"A comparação com 'negro saber seu lugar', 'homossexuais não pode[m] andar de mãos dadas na rua', 'mulher não pode usar roupa sensual' não é bom [sic, boa] em relação a 'ateus devem ser respeitosos'. Em primeiro lugar, desrespeito é criticável - mesmo o responsivo. Além disso, desrespeito *não* é uma característica intrinsecamente necessária para o exercício da ateidade ou do ateísmo. Em terceiro lugar - ligando-se com o primeiro -, 'negro saber seu lugar' restringe os direitos dos negros porque todo mundo, menos os negros, podem ir e vir para qualquer lugar, 'homossexual deve ser discreto' restringe o direito dos homossexuais porque todo mundo, menos os homossexuais, podem demonstrar afeto em público; 'mulher deve se vestir puritanamente' restringe os direitos das mulheres porque todo mundo, menos as mulheres, podem se vestir do jeito que quiserem
'Ateus devem se comportar' só é comparável a essas situações se a todo mundo, menos os ateus, fosse dado o direito de ser desrespeitos."
O desrespeito por parte dos ateus em relação aos religiosos deve ser criticado.
Também devem ser criticados os desrespeito dos religiosos em relação aos ateus.
E também o desrespeito de grupos religiosos em relação a outros grupos
religiosos.
Manuel,
ResponderExcluirvenho aqui para lhe agradecer pelos livros que você mandou pelo meu esposo Leno (tecnico da OiTv). Começei a passar a vista pelas páginas e parece ser muito bom. Quando terminer de ler um outro livro que estou lendo vou ler com mais atenção. Farei comentários no meu blog. Mais uma vez, estou muito obrigada pelos livros.
Meu blog: www.obicho-humano.blogspot.com