domingo, 15 de julho de 2012

ELAS (MANUEL S. BULCÃO NETO)

Venus de Milo, Louvre


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Elas

I
Tempo de amar


Quando ela me olha
Ganho todo o dia;

Quando olha e me vê
Ganho a semana inteira;

Quando então me sorri
Sou só riso por um mês.

Ó Afrodite, me diga:
O que preciso fazer

Para que ela me dê
Um flash de eternidade?



II
Sonho de Romeu


Ah, como ficas linda
Nesse traje de gala,
Amada Julieta...

Mas no sonho de Romeu
Não estás feito crisálida,
E sim como borboleta.

Por isso, trago-te flores:
Jasmim, dálias, violetas…



III
Verso para a mulher possível


Beijo tuas estrias,
Lambo-te as celulites,
Mordo teus culotes
E também os joanetes.

Não me teria apaixonado
Se não tivesses estrabismo leve
E os caninos saltados.

Ah, essas imperfeições,
Que apimentam tua beleza…



IV
Metonímia


Eu, quando só,
Só penso em ti
Não tardo a te
Sentir em mim.

Este tesão
Que teu retrato
Me espicaça
Não é sintoma
De solidão,

Mas metonímia
De uma paixão.



V
Body art


O desejo do Eu
É o desejo do Outro.

Jacques Lacan

Desejo-te.
E sei, mulher vaidosa
— De shopping e convenções —,
Que desejas
Meu desejo.

Escondes
Isso de mim?
Por que então me mostras
Que o escondes?

Sabes bem:
Já penetrei tua alma
Por essas frinchas
Quase sempre abertas
— Teus olhos negros
     E oblíquos.

E dentro
Transformei teu corpo
Num poema hermético
De amor secreto.

Melhor que fosse
Um madrigal
De uma só metáfora
Onomatopaica:

Nosso arfar uníssono
De prazer selvagem.


Manuel S. Bulcão Neto.

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