domingo, 24 de junho de 2012

NIETZSCHIANAS (MANUEL SOARES BULCÃO NETO)


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Cena do filme O sétimo selo
de Ingmar Bergman

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Nietzschianas

Ao Alves de Aquino


I
Filhos do infinito


Espanta-me saber
Que um em infinito
Era minha chance de nascer.

Desse absoluto acaso
O encanto supera a dor
Da necessidade de morrer.

Existo, fato acabado,
E por mais me pese o fado,
Ao nada prefiro o ser.



II
 Fracasso


Fracassar
Não é perder a sorte,
Ver o Sonho destruído;

Fracassar
É, no instante da morte,
Desejar não ter nascido.



III
 Metáfora


Prefiro

A angústia dos homens
À felicidade dos poodles;

As dores do amor
Aos analgésicos do tédio.

E quando a vida deprime
Por não ser boa nem bela…

Ainda resta o Sublime.


IV
Estranho atrator (*)


Legiões de excêntricos
Vagueiam
No limite entre a ordem
E o caos.

Alguns se mantêm
Na fronteira
— Lá ficam fisgando
    Estrelas —

E muitos transpassam
O umbral.
  


V
 Circulus virtuosus deus


Os estoicos vencem a morte
Com a própria morte.

Elias Canetti

Vivi bem,
Ardentemente.
Feliz, fui muito!
Hoje, sou menos.

Por quê? — Cansaço,
No peito um sopro,
Essa tristeza
De “pai de morto”…

Hoje, bem cedo,
Saí da cama.
Em vez de febre,
Sentia força.

Tomei café
Com pão e nata.
Faltei ao médico
E disse: — Basta!

Repetiria, ó!
— Ad aeternum —
Todos os gestos
Que fiz na vida,

Cada momento,
Com regozijo;
Mesmo este último:
Cruento e fatídico.

Fui senhor
Da própria vida,
Agora o sou
Da minha morte.

— Será assim
Que partem os fortes?





Manuel S. Bulcão Neto

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(*) “Eu vos digo: é preciso ter ainda caos dentro de si para poder dar à luz uma estrela dançante. Eu vos digo: há ainda caos dentro de vós.” (NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra – um livro para todos e para ninguém. Trad. Mário da Silva. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil S.A., 1994, p. 34).

Um comentário:

  1. O Mundo é mau? Que piore!
    Viver é sofrer e eu vivo!
    Diz-me o novo Imperativo:
    Suporte! Ria! Não chore!

    AO AMIGO BULCÃO, COM ADMIRAÇÃO

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