Freud
e o terceiro golpe
(Trecho do ensaio Contra o principio
copernicano)
Manuel
Soares Bulcão Neto
Sigmund Freud (1856-1939), o pai da
psicanálise, movido pelo seu narcisismo (digo isso por troça: sou freudiano)
afirmou, ele próprio, que sua teoria representa a terceira pedrada lançada
contra o narcisismo da espécie humana (a primeira teria sido o heliocentrismo
de Copérnico, seguida da hipótese evolucionista que defende a existência de uma
ancestralidade comum entre os humildes macacos e essa “macacada metida a besta”
que é a humanidade). Em seu ensaio Uma
dificuldade no caminho da psicanálise (1917), Freud escreveu:
[1] É assim que a psicanálise tem procurado educar o ego.
Essas duas descobertas — a de que a vida dos nossos instintos sexuais não pode
ser inteiramente domada, e a de que
os processos mentais são, em si, inconscientes, e só atingem o ego e se
submetem ao seu controle por meio de percepções incompletas e de pouca
confiança —, essas duas descobertas equivalem, contudo, à afirmação de que o ego não é o senhor da sua própria casa.
Juntas, representam o terceiro golpe no amor próprio do homem, o que posso
chamar de golpe psicológico.” (Os
negritos são meus).
[2]Meu ponto de vista, ao contrário, é de que o eu,
sendo dono de uma ampla casa, delega muitas tarefas do
lar a um séquito de serviçais. E todos laboram não necessariamente sob a vista do proprietário, havendo mesmo os
que o fazem enquanto o senhorio
dorme. Refiro-me aqui aos inconscientes
e pré-conscientes mecanismos de defesa do Eu: recalque e repressão, denegação,
formação reativa, sublimação, racionalização, projeção…
Ora, se até o reino mineral “inconsciente”
está submetido a leis, atratores, isto é, a certa “racionalidade”, há mais
motivos para crer que esses mecanismos psíquicos inconscientes “universais”,
atributos do aparelho psíquico de virtualmente todos os seres humanos, longe de
serem vieses patológicos (muitos psicanalistas assim consideram a identificação
projetiva e até a repressão), consistem em adaptações que, apesar de grosseiras
– como, aliás, todas as outras – desempenham funções teleonômicas [3] com regularidade “racional”, tal qual o
batimento cardíaco. Decerto que estão, uns mais outros menos, associados a
diversas afecções mentais — do mesmo jeito que existe relação entre os mais
saudáveis sistemas gastrintestinais e mortes por ingestão de estricnina,
metanol, baiacu…
Sim, como é do conhecimento de toda dona de
casa “normal a meia distância”, nada
funciona plenamente a contento, com perfeição e nem de forma ótima o tempo
todo. Sobretudo porque, como venho repetindo, os organismos vivos, inclusive
seus aparelhos neuropsíquicos (tanto o sensório-motor como o consciente) são
artefatos ao mesmo tempo complexos e imperfeitos: um emaranhado de arranjos
improvisados e com a rebimboca da parafuseta sempre na iminência de uma pane. E
não poderia ser diferente, já que – como indica uma profusão de indícios – são
produtos de mecanismos cegos, como a mutação genética e a seleção natural. Além
do que, em muitos táxons de seres vivos, há sobrecarga de caracteres
fenotípicos supérfluos, dissipadores de energia, decorrentes de mutações
gênicas neutras, isto é, nem nocivas nem favoráveis do ponto de vista
adaptativo. — E, no genoma de muitas espécies de protistas, fungos, plantas e
animais, mais DNA-lixo do que codificador. O lírio, algumas salamandras e a
ameba da espécie Amoeba proteus
possuem no núcleo de suas células muito mais DNA que nas células humanas. O
protozoário citado, então, cerca de duzentas vezes mais pares de bases deste
ácido, consistindo a maior parte dos polímeros em encadeamentos aleatórios e
repetições redundantes de nucleotídios sem qualquer função seja reguladora ou
estruturadora de proteínas. (O DNA-lixo é abundante porque não realiza função.
São parasitas que se disseminam pelo mesmo procedimento adaptativo que conduz à
multiplicação dos genomas virais. E o eucariota não os elimina pelo fato de
que, em ambientes instáveis, sofrem mutações devido ao estresse e alguns passam
a ser funcionais. Trata-se de uma armazenagem custosa de recursos adaptativos.
Mas como poderia ser diferente se a evolução opera sem previsão? Assim, no mais
das vezes o resultado é menos produto do que refugo).
Não obstante, no establishment científico do século XIX e início do século XX,
disseminada ainda era a crença no determinismo laplaciano; a “fé” num racionalismo monolítico providente (sintetizada
no apotegma hegeliano “o que é real é racional; o que é racional é real”) e na
cognoscibilidade absoluta (Freud mesmo defendia a existência de um
“determinismo psíquico” hard,
inconsciente e, quanto à ciência, algures referiu-se a ela como “nosso deus
frágil… por enquanto”); também o culto à previsibilidade científica
“precisa” e a
ilusão de que a “verdade” científica é em princípio “boa” e por si libertadora
(“a verdade é revolucionária!” – Sentenciou o revolucionário Gramsci: um
socialista “científico”).
Obviamente que, como outro lado da moeda, aos cientistas dessa época causavam
mal-estar (náusea, taquicardia, sudorese…) manifestações de acaso refratárias ao entendimento –
pois que concebiam a contingência como mera aparência ou produto do
entrecruzamento de cadeias independentes de nexos causais –, de fatores imponderáveis, de sistemas dinâmicos pseudorrandômicos com
trajetória imprevisível em médio prazo, de proposições indecidíveis (o paradoxo do mentiroso, por exemplo) que
põem em xeque a consistência e/ou completude de qualquer sistema formal de
axiomas, inclusive a da lógica matemática.
“Deus não joga dados.” (Einstein);
“planejamento centralizado – racional – da economia, em vez da anarquia
irracional do mercado.” (Marx & Cia.)… Também não agradava a Darwin a ideia
segundo a qual a matéria-prima da seleção natural, isto é, o polimorfismo
(diversidade biológica) é produto do acaso; tanto que, por longo tempo,
considerando como premissa solidamente estabelecida a tese, atribuída a
Lamarck, da herança dos caracteres adquiridos, formulou Darwin sua hipótese ad hoc das gêmulas em que a contingência
é excluída. [7]
No entanto, a hipótese das gêmulas e similares
– as assentadas na desconfiança do neocórtex humano (dos lobos frontais, cuja
função é “controlar a previsão do futuro”) em relação às leis do acaso, e as
correlacionadas com camadas subcorticais arcaicas responsáveis pela
ritualística repetição do mesmo (caso do complexo reptiliano – o adjetivo diz
tudo) –, todas elas sucumbiram às críticas de August Weismann (1883) e às do
geneticista “neutralista” Motoo Kimura, que erigiram a função da contingência e
da aleatoriedade em axioma do evolucionismo. Talvez a reação mais caricatural
de rejeição à atual teoria sintética da evolução tenha sido a do matemático
intuicionista e racionalista K. Gödel (sim, para o gênio criador dos teoremas
da incompletude, existe uma intuição matemática e esta é racional). Inatista
radical, certa vez confessou a Noam Chomsky estar “tentando provar que as leis
da natureza são a priori”;[8] e numa conversa de mesa com o filósofo Thomas
Nagel admitiu sua descrença no evolucionismo darwiniano. “Você sabe” – disse a
Nagel – “que Stalin tampouco acreditava na evolução, e ele era um homem bem
inteligente.” [9]
A filósofa e escritora Rebecca Goldstein assim
explica sua atitude:
[10]A hostilidade de Gödel à
teoria da evolução torna-se compreensível à medida que se entende melhor a
mente dele. Um racionalista como Gödel deseja remover o acaso e a
aleatoriedade, enquanto a seleção natural invoca a aleatoriedade e a
contingência como fatores explanatórios fundamentais. No nível da microevolução
(mudança de geração para geração), a teoria concede um papel central à mutação
e recombinação aleatórias. No nível da macroevolução (padrões na história da
vida), concede um papel central à contingência histórica, como os caprichos da
geologia e do clima, ou eventos casuais como o choque de um meteorito com a
Terra, encobrindo o Sol, exterminando os dinossauros e, assim, permitindo a
mamíferos semelhantes a ratos habitar os nichos ecológicos vagos. (Sou grata –
“observação de Rebecca Goldstein” – a Steven Pinker por essas informações).
Ora, esse culto insensato, entre cientistas,
tecnocratas e entornos, numa razão ferreamente determinista e criptoteleológica
(razão que não só explica e nos permite “compreender” – Verstehen –, mas também “julga” e estabelece sanções morais), tal
Razão maiúscula – onipenetrante, onipresente, onipotente – com ressaibo
escolástico, isto é, tomista, faziam-nos
vislumbrar miragens; como – para não me estender, citarei só um exemplo –
“sabedoria” nas leis objetivas e impessoais atinentes à evolução da vida: a
seleção natural premiando os bons e apenando os maus (“os que são capazes de
viver, viverão e é justo que vivam;
os que não são capazes de viver morrerão, e é justo que morram”, sentenciou o profeta moralista da “deusa”
Natureza, Herbert Spencer); produzindo organismos ditosos, “superiores”,
“controlados” por sistemas cérebro-mente sofisticados, de alta performance, finamente “racionais” — ah,
essa mania nada razoável (à la F. W.
Taylor) pelo controle total, esse medo
irracional do irracional (para usar uma expressão do filósofo Olavo de
Carvalho)…
Obviamente que, os que assim pensavam,
sentiram-se chocados ao serem informados que o eu (logo, o pensamento racional) comporta-se mais como um jóquei
tentando, amiúde em vão, controlar os movimentos instintivos e impetuosos
(irracionais) de um cavalo (o id ou isso).
Mas… eis que me surge uma pergunta: — Afinal,
antes dessa plêiade de sacerdotes da razão eficiente, e mesmo em sua época,
seus valores eram hegemônicos, enraizados no senso comum ou ao menos no bom
senso? Por acaso, é atitude razoável
uma pessoa que se sabe com existência curta, submetida à violência constante e
sem certeza quanto ao amanhã – infortúnios não só da massa mas, também, de
muitos que pertencem aos estratos superiores – em suma: é sensato que tal indivíduo, vivendo
o tempo todo sob a espada de Dâmocles, alimente aspiração apolínea? Tem
tempo ele para colher os frutos disso?! Ou, ao contrário, mais realista não seria se vivenciasse cada momento – talvez o
último – com intensidade dionisíaca que não implique em perda do juízo moral?
Sem ideia fixa em autocontrole e assobiando o partido-alto “Deixa a vida me levar” (Zeca Pagodinho)?
— Ou ainda, como alternativa igualmente
racional (no sentido popperiano de “ação mais adequada a uma
situação-limite”), entregar-se, com a “fé cega” de Tertuliano (Credo quia absurdum est), a crenças
abstrusas que lhe prometem existência eterna, farta e sem terrores no
além-túmulo? Ora, acostumado a uma realidade tangível, misteriosa em grande
medida e que se lhe opõe de forma irracional, absurda, fica-lhe fácil – não há
incoerência em – acreditar em absurdos melhores.
Acredito que o golpe psicológico de Freud,
longe de ter afetado negativamente o amor próprio dos homens, atingiu apenas o
narcisismo de um círculo de cerebrotônicos obsessivo-compulsivos – esmiúço esta
ideia mais à frente – intoxicados por leis, regularidades e padrões
(Aristóteles, que afirmou ser o homem um animal racional – todos os gregos e
raríssimos bárbaros, segundo o Estagirita
– foi um dos primeiros). Tanto que, até hoje, tentam devolver o petardo com
azáfama histérica, taxando Freud e os psicanalistas em geral de charlatões,
tarados sexuais, pseudocientistas, xamãs e quejandos.
* * *
A crítica mais incisiva do etólogo Konrad
Lorenz (1903-89) ao behaviorismo radical de Burrhus Frederic Skinner (1904-90)
teve por alvo seu método analítico, que consistia em, sob condições artificiais
de laboratório (e tão somente nessa situação), submeter determinada classe de
comportamento da cobaia (ritual de corte, processo de aprendizagem entre
outros) a operações experimentais (algumas, sabe-se lá de que tipo!), de
mensuração etc. E ao fim, só considerar como caracteres comportamentais
“padrões” da cobaia os revelados nessas operações. — A respeito dessas
experiências, Konrad Lorenz escreveu:
Quando behavioristas
colocam pombos experimentais dentro de uma caixa opaca que evita a percepção de
qualquer informação, exceto aquela de quando e quão frequentemente o pombo
aperta uma barra, eu não posso evitar a ideia de que eles não querem ver as outras várias atividades executadas pelo animal,
porque têm medo de que o que vissem pudesse diminuir sua crença em seu próprio monismo explicativo. As razões ideológicas para isso não são,
entretanto, assunto para um manual de etologia. [13] (Os negritos são meus).
Pois bem, citei a crítica do etólogo (mais
afeito a pesquisas de campo – à “observação” dos animais em condições naturais,
em seu hábitat e com seu modus vivendi
“normal”), mencionei a oposição desse estudioso de gansos ao reducionismo
metodológico do manipulador de pombos cativos B. F. Skinner (cujos
experimentos, creio, têm menos o propósito de investigação, objetiva e
científica, da psicologia animal do que o intento de desenvolver técnicas de
condicionamento mental, imprescindível ao Human
engineering dos setores de marketing das grandes corporações
capitalistas: departamentos de merchandising
que hipertrofiaram ao ponto de serem, hoje, laboratórios de produção de
“necessidades novas” ou fábricas de consumidores autômatos)[14] —
digo, enfim, que assim o fiz tendo em vista a possibilidade de Freud ter,
talvez, exagerado um pouco em seu “golpe psicológico”. Que, ao escrever a
famosa sentença “o Eu não é senhor da
sua própria casa”, nesse momento estava sob forte influência do grande médico
em sua clínica (a elucubrar enquanto analisava doentes); que o cavaleiro
desequilibrado sobre o garanhão mustang
não representa tanto o homem comum de caráter
genital com sua infelicidade normal
mas, sobretudo, o paciente psiquiátrico, o psicanalisando
exangue ainda em plena miséria
neurótica.
Pois, de acordo com a teoria da libido
freudiana – com a qual concordo mutatis
mutandis –, os indivíduos que conseguem superar o complexo de Édipo e,
assim, desenvolver “caráter genital” (importante lembrar que esses indivíduos
compõem “a maioria da população”), possuem um ego – ou eu – bem mais robusto. Ora, o eu
é a instância psíquica responsável pelo pensamento “lógico”
pré-consciente/consciente, pensamento este orientado pelo princípio da
realidade e, portanto, com elevado grau de “racionalidade”.
(Interessante observar que, de acordo com a
psicanálise ortodoxa, certos indivíduos com pulsão epistemofílica
demasiadamente acentuada – percentagem significativa dos que, na tipologia de
Sheldon, enquadram-se entre os “cerebrotônicos” – demonstram forte fixação no
estádio fálico/uretral – logo, pré-genital – da libido. Significa dizer que não
superaram satisfatoriamente a crise edipiana: apresentam, portanto, ego
subdesenvolvido, frágil, de sorte que, sob forte pressão, protegem-se
regredindo ao estádio anterior, anal – aviso que não há relação necessária
entre caráter anal e homossexualismo –, o que é característico dos
compulsivamente parcimoniosos e maníacos por ordem. Destaco, ainda, que, entre
os mais autorreflexivos desses indivíduos, tão logo se cientificam disso
desenvolvem formação reativa, isto é, passam a se comportar de maneira pródiga
e desleixada — são esses que melhor entendem o ideal-típico em questão: sua imagem
especular).
Acresce dizer que a superação do
Édipo-complexo implica não só um eu
mais forte e realista, como também um id
(ou isso) com pulsões “irracionais” –
tanáticas, parafílicas, incestuosas… – mitigadas até o limite do possível, o
que significa dizer: um id bem mais
manso, adestrável (mormente pelo mecanismo da sublimação), controlável por um
saudável ego de caráter genital: flexivelmente resoluto, razoavelmente
racional, comedidamente realista — em suma, que, “com o equilíbrio da evidência
e do lirismo, aquiesça ao mesmo tempo à emoção e à clareza” (A. Camus; O mito de Sísifo).
Decerto que o id, conforme a metáfora de Freud, continua um cavalo com suas
manhas; só que, na condição “normal” ora em análise, não um selvagem garanhão
mongol, mas um pangaré cearense puxador de carroça sob o acicate do “dono”.
Vale salientar que, como já indiquei, a
racionalidade compreende outras faculdades além do pensamento lógico
consciente. A propósito, o psicanalista da corrente culturalista Erich Fromm
(1900-80), em sua obra Anatomia da
destrutividade humana (1973), demonstra com argumentos os mais pertinentes
que pulsões e paixões humanas, por diferenças de grau, caráter e adequação ao
contexto, também podem ser classificadas como racionais ou irracionais,
malignas ou benignas.[15]
A necrofilia sexual, por exemplo – cito-a por
minha conta e contrariando parcialmente o ponto de vista de E. Fromm – é uma
parafilia (sinônimo politicamente correto de perversão) irracional em sua essência e em tese maligna. Já quando
praticada de maneira ultramitigada, por meio de rituais estritamente
alegóricos, mera e inofensiva simulação em imagens e com o consentimento mútuo
dos parceiros — conquanto permaneça irracional e, para a maioria das pessoas,
ainda assustadora, a necrofilia perde a malignidade, isto é, converte-se numa
bizarrice neutra do ponto de vista moral. Ora,
isso é prova cabal da capacidade do “eu” de, mediante arranjos ultracriativos
(ajustando o “irracional” angustiante em formas “razoáveis” de sorte a torná-lo
“metabolizável”), submeter ao seu controle até a mais terrificante e destrutiva
das pulsões.
Quanto aos impulsos agressivos, Fromm
argumenta que os decorrentes de raiva
passageira, “ligada” a fatos que bem ou mal a justificam, estes – que o autor
inclui na categoria das agressões biófilas
junto com a “viril”, a defensiva… – são, por razões óbvias, simultaneamente benignos e racionais.
O oposto, portanto, da agressão desligada, vale dizer, arbitrária na
escolha do seu objeto, e que sempre se realiza com crueldade e volúpia
diretamente proporcional ao estrago provocado. O erotismo difuso desse tipo de
agressão – destrutividade livre e prazerosa! – deve-se ao entrecruzamento
neuroquímico (isto é, à testosterona e seu circuito neuronal) do desejo sexual
– da libido pré-genital remanescente na maioria dos casos – com a vontade do
poder pelo poder.
Erich Fromm, enfim, sintetiza seu ponto de
vista na sentença que reproduzo abaixo:
Proponho chamar de racional qualquer pensamento, sentimento ou
atuação que promova o funcionamento adequado e o crescimento do todo de que é
parte, e de irracional aquele que tende a enfraquecer ou a destruir o todo. É
óbvio que apenas a análise empírica de um sistema pode mostrar o que pode ser
considerado como racional e irracional, respectivamente.
No ensejo, na nota 30 (p. 354) referente à
sentença transcrita, Erich Fromm lembra que “Spinoza fala de afetos racionais e
irracionais; Pascal, de raciocínio emocional” — e menciona a declaração de
Whitehead de que “a função da razão é promover a arte da vida”.
* * *
Essa máxima do matemático britânico Alfred
North Whitehead (1861-1947) evoca, por contraste, os princípios sui generis da poética ontológica de
Friedrich Wilhelm Nietzsche. Comentarei brevemente essa “poética”, pelo seu
caráter de contraponto ao racionalismo procustiano e seu psicossomático
autocontrole: “Sintoma” – diria o filósofo-médico – “do medo irracional do
irracional.” — “Já detesto comandar a mim mesmo!…”; [17] “Esses professores da moral que recomendam ao
homem acima de tudo que se
autodomine, dão-lhe dessa forma uma singular doença (…). Seja o que for que
aconteça daqui para frente, seja de fora, seja de dentro (…), parece sempre a
este ser irritadiço que o seu domínio sobre si corre os maiores perigos: já não
tem o direito de se fiar em nenhum instinto, de se abandonar a nenhum impulso
livre, mantém-se na defensiva, sem repouso, eriçado de armas contra ele
próprio…” [18] (O
negrito é meu).
Nietzsche questiona, de forma radical, o
lugar-comum de que o pensamento lógico e consciente, atributo do eu, seria o recanto por excelência da
razão. Pois sua filosofia – emblema, segundo Gilles Deleuze (1925-95), do
irracionalismo autêntico – não se opõe à razão alegando a primazia do
sentimento ou da emoção, os “direitos” dos dados ou do coração. Na obra deste
grande pensador alemão (impossível
não reconhecer seu gênio, embora discordando-se profundamente dele — “este
livro me atraiu com aquela força que possui tudo quanto nos contradiz, tudo que
nos é antípoda” — A genealogia da moral,
prefácio, IV), o irracionalismo atingiu seu estádio mais elevado, pois contradiz deliberadamente a razão com o próprio pensamento, “o que se opõe
ao ser razoável é o próprio pensador.” [19] Pensamento
aristocrático cuja categoria não é o verdadeiro
e o falso, mas o nobre e o vil. Sim, o
novo filósofo da presumida idade crepuscular do homem – e do suposto alvorecer
do super-homem – busca com seu pensamento senhoril, ativo e legislador não o
conhecimento banal, mas o sentido e o
valor; não a vida verdadeira como
“deve ser” na sua essência (refúgio dos fracos), mas tal como ela “é”, uma
enganosa aparência (aconchego dos fortes). Motivo pelo qual prefere o esteta do
pensamento, a nobre mentira à verdade
baixa; e por que, quando lhe perguntam “o que é a Arte?”, responde: “algo
que existe para não morrermos da Verdade” (Nietzsche; Vontade de potência).
Mas, considerando-se a arte realista e sua
função cognitiva, como fazer dela tal antídoto? — Ora (esclarece o
filósofo-dinamite), “magnificando o mundo enquanto erro, santificando a
mentira, fazendo da vontade de enganar um ideal superior”.[20] Um artista filósofo que, não obstante,
vale-se da Lógica muito mais e melhor que a maioria dos catedráticos
racionalistas; porém com o único intuito de “adequar o mundo a uma falsificação
útil”, [21] condizente
com o anelo de dominação sem limite da aristocracia hiperbórea. E não há meio
melhor para escravizar o corpo e o espírito dos últimos homens – todos
destinados a serem reses do novo gado a serviço dos sobre-humanos – que
violência com engodo tático,
bastando, para tanto, reforçar com ilusões estéticas o mundo-aparência (lebensraum dos fortes e onde a
humanidade é inepta) em que viver é “errar, enganar, dissimular, ofuscar,
cegar…” [22]
Conheço alguns homens provedores e donas de
casa que, literalmente, não são senhores/senhoras do próprio lar. No caso do
Beltrano, a esposa “fálica”, por tê-lo em alta conta – seu bolso – trata-o como
patrimônio semovente. Os filhos, egoístas, jogam com as desavenças dos pais
para ganhar dinheiro. A empregada, confidente da patroa, atende com indolência
aos seus humildes e reiterados pedidos de café e mais uma dose de uísque. O
cãozinho de estimação, macho alfa da
casa, demarca território em suas pernas de hora em hora. Mesmo assim Beltrano não foge. Melhor a vida
gregária infeliz que a solidão e a angústia corolária de toda situação nova.
Já Nietzsche… um solitário em sua água-furtada
(logo, suposta e metaforicamente “senhor da sua própria casa”), enfermiço, de
inteligência tão incompatível com senso de humor (até o espirro soava como
ironia ácida) que as pessoas tendiam a mantê-lo afastado. E tudo piorou quando
Lou Salomé, diva por quem se apaixonou, não só recusou energicamente seu pedido
de casamento como, logo depois, dividiu apartamento com Paul Rée (amigo de
Nietzsche) em Paris, numa relação apenas de irmãos – o suficiente, porém, para
que o suscetível filósofo desenvolvesse sentimentos misóginos. Deprimido mais
do que sempre fora, descrente dos homens, com ideias suicidas, encapsulou-se em
seu ego – a morada da razão – do qual ele próprio, inconscientemente, não
gostava. E quem não ama a si mesmo não ama ninguém.
Sozinho com seu id conturbado de neurótico, afeiçoou-se do bicho, como que materializando o provérbio que diz: “se nada posso
contra um inimigo em via de me matar, alio-me a ele e me fortaleço”. Acochou
tanto o laço que, numa espécie de identificação
projetiva [23] de
sinal contrário, introduziu[-se] na besta-fera narcisista e
repositório da sua agressividade de frustrado [com] o melhor de si mesmo: erudição, inteligência exuberante, pensamento lógico aguçado… Até lhe deu
o nome de super-homem.
Quanto à humanidade, em meio à qual jamais foi
feliz, atribuiu-lhe tudo que em si e “de si” causava vergonha, dor e revolta: o
doente, o inepto no trato com as mulheres, o pastor protestante que não
conseguira ser, o gauche, o homem bom que, como voluntário do
exército na guerra franco-prussiana (1870-1), chocou-se profundamente com a
violência e o sofrimento das pessoas… pelo que concluiu ser o homem um animal
falhado a ser superado e cuja grandeza é “ser ponte, não meta (…) uma transição
e um ocaso”.[24] Escreveu obras brilhantes, goste-se ou não de
suas ideias (até porque há erros que são fecundos). No final, porém, quase
totalmente despersonalizado, em cartas dirigidas a reis e inclusive ao Papa,
subscreveu-as com nomes grandiloquentes – Nietzsche-César, Dioniso, o
Crucificado – dando a impressão de ter se transformado em porta-voz da fera que
idealizara, que alimentara com sua solidão zaratústrica e que, deixada solta,
apossara-se, vão por vão, de sua “casa” escura.
No início de 1889, Nietzsche perdeu o resto da
razão. Saiu da própria casa (isto é,
saiu de si) e de um jeito que lembra o conto do argentino Julio Cortázar, Casa tomada.[25] — Permaneceu demente, fora de si, até sua morte em 25 de agosto de 1900.
Atente-se à expressão “fora de si”: implica em
não se reconhecer em “si-mesmo”, em seu self,
na sua “autoimagem psíquica sem a qual não pode haver pensamento reflexivo, diálogo entre mim comigo mesmo ou, em
síntese, autorreflexão consciente.”
Ficar fora de si é perder a consciência e quem assim permanece, “fora”, com o
centro da vida mental “no exterior”, percebe a realidade ao seu redor sem
qualquer “introspecção”, de modo que, em sua mente, tudo, inclusive “si mesmo”,
é pura exterioriedade: forma
psíquica de experimentar o mundo que é apanágio dos animais inconscientes,
desses sencientes autômatos que, ignorantes de quaisquer fronteiras, transitam
indiferentes do sonho para a realidade e vice-versa.
* * *
Karl Popper defendeu a tese de que as pessoas
tendem, mesmo inconscientemente, a se
orientar pelo “princípio da racionalidade”, que nestes termos pode ser
definido: “agir de forma adequada às situações, com proveito ótimo das
informações disponíveis e capacidade para se autocorrigir.” Com este princípio
em mente, Popper escreveu o seguinte sobre Freud:
Freud foi, muitas vezes,
descrito como o homem que descobriu a irracionalidade humana. Mas esta é uma
interpretação errada e muito superficial, para se fazer valer. A teoria de
Freud sobre a origem típica de uma neurose cabe inteiramente no nosso esquema
de explicações que englobam tanto um modelo situacional como o princípio da racionalidade. Pois ele
explica a neurose como uma atitude adotada cedo na infância, dado ser a melhor
saída de uma situação que a criança não conseguira compreender e suportar. A
adoção da neurose torna-se assim um ato
racional da criança – tão racional, por exemplo, como o ato de um homem
que, ao saltar para trás quando confrontado com o perigo de ser atropelado por
um carro, choca-se com um ciclista. É racional no sentido de que a criança
escolheu entre duas possibilidades a que lhe pareceu mais imediata, ou a óbvia,
ou talvez a menos má – a menos intolerável.
Direi apenas, a propósito
do método de terapia de Freud, que ele é
ainda mais racionalista do que o seu método de diagnóstico ou explicação
(porque se baseia na suposição de que, desde
que um homem compreenda o que lhe aconteceu quando criança, se liberta da
neurose).[26] —
Os negritos são por minha conta.
Realmente,
Freud era um racionalista do tipo clássico: acreditava que, mediante apenas o autoconhecimento do sujeito, isto é,
pelo conhecimento do id (isso),
pode o ego (eu) alcançar domínio “ótimo” sobre as pulsões irracionais
subjacentes, substituindo, assim, “a miséria neurótica pela infelicidade
normal”. Tanto que, como ele próprio afirmou no ensaio O ego e o id (1923), em sua atividade psicoterapêutica orientava-se
por um princípio gnosiológico imperativo,
a saber: “O que é isso, que seja eu.” Ou “no lugar d’isso, eu devo estar”.
…wo
Es war soll Ich werden!
[1] FREUD, Sigmund. Uma dificuldade no caminho da psicanálise (1917). In Edição Standard Brasileira das
obras completas de Sigmund Freud – Volume XVII. Rio de Janeiro: Imago Editora
Ltda., 1976, p. 178.
[2] Recalque
e repressão não são a mesma coisa. A repressão atua antes no espaço
consciente e, devido à ação reiterativa, converte-se em reflexo condicionado
(componente do estereótipo dinâmico
do indivíduo) a operar no pré-consciente visando a alojar representações e sentimentos
ainda no pré-consciente, só que mais adentradas ou, no caso de vivências mais
“pesadas”, e catalisada pela força centrípeta do inconsciente profundo,
lançá-las e mantê-las indiscerníveis no breu desse limbo.
Quanto ao recalque,
consiste numa censura primária, arquetípica,
a operar na fronteira entre a natureza e
a cultura, com o automatismo dos reflexos inatos e no sentido de manter
afastadas da consciência – no porão do inconsciente – pulsões mais genéricas e a
priori desagregadoras, isto é, “em princípio”
antissociais.
Decerto que a maioria dos teóricos da psicanálise e dos
neopavlovianos (behavioristas e quejandos), por bizantinismo epistemológico,
excesso de especialização e/ou “instinto” tribal, rechaçam firmemente essa
correspondência – mesmo que relativa – entre os conceitos da reflexologia de
Pavlov com os da seara psicanalítica. Há, porém, fortes indícios da existência
de uma correlação. Por sinal, o psiquiatra Emilio Mira Y Lopez, em seu opúsculo
Os fundamentos da psicanálise,
escreveu: “Os pontos de vista psicanalíticos não são, inconciliáveis (…) com os
da psicologia neurorreflexológica. No fundo, quase todos os denominados ‘mecanismos
de compensação’ descobertos por Freud, inclusive a denominada ‘conversão’
sintomática, a antinomia consciente-inconsciente
etc., podem ser explicados com a terminologia pavloviana. (…). Em geral, a
teoria dos ‘reflexos condicionados’ é uma confirmação objetiva à chamada teoria
do ‘deslocamento’ (válida especialmente para a explicação das fobias,
compulsões e transferências afetivas).” — LOPEZ, Emilio Mira Y. Os fundamentos da psicanálise. Rio de
Janeiro: Editora Científica, s/d, p. 131.
[3] Necessário dizer que teleonomia não é sinônimo de teleologia.
Teleonomia é uma categoria científica
associada ao conceito de função:
parte do comportamento de uma formação material adequada à ontogênege,
homeostase e, em certos casos, replicação dos sistemas dinâmicos complexos de
que são partes. Já teleologia,
trata-se de uma categoria filosófica que designa transformação ou movimento
deliberadamente orientado no sentido do bom ou do bem. Quanto à definição do
bem como critério moral… o que tenho a dizer é que, depois da invenção do
rigoroso “pensamento conceitual” na Grécia antiga, grupos diversos de
intelectuais (filósofos, literatos, cientistas, matemáticos e até advogados)
discutiram tanto sobre sua natureza, tantas hipóteses atinentes à questão foram
elaboradas – todas concomitantemente plausíveis, irrefutáveis e incompatíveis
entre si – que, hoje em dia, por conta disso, impossível alguém saber, com grau
razoável de certeza, o que raios isso significa. Melhor para o pluralismo
liberal-democrático lato sensu.
[4] Pois, realmente, como afirmou Caetano Veloso,
“Visto de perto ninguém é normal”.
[5] Há tempo que a própria ciência vem desvelando
limites absolutos para seus instrumentos de pesquisa e, consequentemente, para
seu poder de predição e de explicação. Como o princípio da incerteza de
Heisenberg; o comprimento e o tempo de Planck em cujos marcos tudo jaz
mergulhado na absoluta indeterminação quântica; o comportamento imprevisível em
médio ou longo prazo dos sistemas dinâmicos complexos não-lineares; a
impossibilidade de muitos sistemas lógicos de demonstrarem a sua própria
verdade; os problemas atinentes à autorreferência;
e o fato de os valores das constantes naturais, obtidos empiricamente
equivalerem, quase todos, a números irracionais não-computáveis, isto é,
números com quantidade infinita de casas decimais absolutamente aleatórias (sem
uma regra que determine o enésimo dígito). Tudo isso contribui para tornar
impossível a previsibilidade precisa.
[6] Na lógica matemática, diz-se que uma
proposição é indecidível quando não
há algoritmo (isto é, uma regra lógica) que prove a sua verdade ou a verdade da
sua negativa. K. Gödel “mostrou” proposições aritméticas que, embora
indecidíveis, são “oticamente” verdadeiras. Outras, porém, consistem em
“paradoxos semânticos”, como a proposição “esta frase é falsa” (uma das versões
do paradoxo do mentiroso). Ora, se a
referida frase é falsa, então é verdadeira; e se for verdadeira, é falsa.
[7] Segundo a hipótese darwiniana das gêmulas,
cada célula somática do organismo adulto verte nos fluidos corporais diminutas
réplicas da célula que as gerou: As gêmulas. Essas cópias se fixam nos órgãos reprodutores
onde irão formar os gametas. — “Quando essas células dão origem a um embrião,
as gêmulas se transformam em novas células do corpo, do tipo das que
originalmente as formaram”. — DOBZHANSKY, Th. O homem em evolução. Op. cit.,
p. 29.
[8] GOLDSTEIN, Rebecca. Incompletude: a prova e o paradoxo de Kurt Gödel. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008, p. 27.
[11] Para São Tomás de Aquino as normas do direito
natural – situado entre o direito positivo e o divino – são “racionais”, e a razão
é “a mais notória expressão da fé.” (Cf. LÉVY-BRUHL, Henri. Sociologia do direito. São Paulo:
Martins Fontes, 1997, p. 9.)
[12] Segundo Aristóteles “o naturalmente escravo ou bárbaro (…) distingue-se do animal
pela sua racionalidade passiva, ou
seja, é ele capaz de perceber a razão (aisthanesthai),
apesar de não possuí-la (echein). Em
outras palavras, contrariamente à fera, sujeita apenas às suas impressões, é
possível ao escravo entender e obedecer aos comandos da razão – quando ditados
pelo seu senhor –, porém não consegue agir ‘racionalmente’ por si mesmo,
governar-se a si próprio de forma razoável.” (Pol., I, 5, 1254b 20-4).
[13] LORENZ, Konrad. Os fundamentos da etologia. São Paulo: Editora da Universidade
Estadual Paulista, 1995, p. 103.
[14] Ver a esplêndida análise
desse fenômeno (o controle da demanda específica pelas megaempresas
capitalistas e o controle da demanda agregada pelo Estado) realizada por John
K. Galbraith (1908-2006), em sua obra clássica O novo Estado industrial (São Paulo: Livraria Pioneira Editora,
1983, capítulos 18-20, pp. 151-74).
[15] FROMM, Erich. Anatomia da destrutividade humana. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1975, pp. 353-5.
[16]
FROMM, Erich. Op. cit., p. 354.
[17] NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência (aforismo 33 – O solitário). Trad.
Jean Melville. São Paulo: Editora Martin Claret Ltda. 2008, p. 27.
[18]
NIETZSCHE, Friedrich. Idem,
aforismo 305 (Domínio sobre si), p. 159.
[19] DELEUZE, Gilles. A filosofia de Nietzsche. Porto: RÉS-Editora Ltda., s/d, p. 141.
[20] DELEUZE,
Gilles. Op. cit., p. 154.
[21] NIETZSCHE, Friedrich. Vontade de potência. Trad. Mário D. Ferreira Santos. Rio de
Janeiro: Ediouro, s/d, p. 233.
[22] NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, tradução de Jean
Melville, p. 171.
[23] Identificação projetiva – “Mecanismo de defesa
descrito por Melanie Klein, consiste em que o sujeito se introduz, parcial ou
totalmente, no interior do objeto, com a finalidade de controlá-lo, possuí-lo e
feri-lo. [Porém] o que se expulsa não são somente partes frustradas, más, do self. Também partes boas, gratificadas,
são projetadas.” (KUSNETZOFF, Juan Carlos. Introdução
à psicopatologia psicanalítica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p.
219)
[24] NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra, op.
cit., p. 31.
[25] CORTÁZAR, Julio. Bestiário. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, pp. 9-18.
[26] POPPER, Karl R. O mito do contexto: em defesa da ciência e da racionalidade.
Lisboa: Edições 70, 1999, pp. 217-8.